Por Stephanie Zanandrais
Recentemente, nos tornamos especialistas em repositório digital, quando lançamos o site do Centro de Informação Técnica (CIT), projeto gerenciado pela Fundação Renova para o compartilhamento de informações sobre o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), no ano de 2015.
O site citdoriodoce.org contém as principais informações sobre o projeto, que também tem espaços físicos para orientação de moradores das cidades atingidas pelo rompimento da barragem. E a principal necessidade era a disponibilização de um acervo digital colaborativo.
Os repositórios digitais são soluções para armazenar e organizar arquivos de informações diversas em um ambiente digital, capaz de ser aberto para colaborações de usuários externos e permitir o controle dos administradores sobre os conteúdos carregados.
Muito utilizado por instituições que trabalham com o compartilhamento de conhecimento e educação, como bibliotecas, ONGs e entidades de pesquisas diversas, o repositório digital é uma ferramenta completa que auxilia na potencialização da aquisição e produção de conhecimento.
Nas últimas décadas, o cenário de Open Science Resources, em português traduzido como “Ciência aberta”, tem tornado cada vez mais acessível nos acervos online o compartilhamento de conteúdo de qualidade e, principalmente, acelerado a disseminação e produção de conhecimento na sociedade.
Na mesma época, o movimento Open Access Initiative, em português traduzido como “Iniciativa de Acesso Aberto”, se consolida com a Declaração de Budapest (2002) e um documento intitulado Trusted Digital Repositories, “Repositórios digitais confiáveis”, divulgado no mesmo ano pela Research Libraries Group e Online Library Center disseminando o conceito de repositório como “uma organização que tem o objetivo de manter informação para acesso e uso”.
No ano seguinte, a Declaração de Berlim, previu regras de utilização e política de arquivamento de longo prazo para o livre acesso a repositórios digitais institucionais.
Deste modo, uma gama, cada vez maior, de áreas de atividade do campo da informação passaram a utilizar os repositórios como “coleções de objetos digitais”, para armazenamento de conteúdo digital, podendo incluir uma variedade de objetivos e utilizadores.
Pouco mais de duas décadas depois, os sites de busca na internet estão constantemente induzindo seus usuários ao compartilhamento de conteúdo organizado e otimizado para tornar ainda mais acessível e eficiente o consumo de informações.
Sendo assim, o uso de repositórios digitais integrados a sites otimizados para ranqueamento nos buscadores é uma alternativa para o livre acesso e compartilhamento de conteúdo relevante na internet.
Mundialmente, o movimento de abertura de dados e ciência começou a ser disseminado na década de 1990, através de políticas e ações que pudessem estimular o acesso a publicações e dados.
Em países pioneiros como Reino Unido, Austrália e EUA, as práticas de dados abertos foram implantadas pelos órgãos nacionais em 2001 e, em países europeus como a França, a política de abertura também envolve parcerias internacionais em projetos de pesquisa.
O primeiro repositório digital é o arXiv.org, atualmente, abastecido por uma comunidade de autores voluntários, leitores, moderadores e doadores que são apoiados pela equipe da Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova Iorque (EUA).
Então, ArXiv surgiu em um laboratório de física, em Los Alamos, Novo México, coordenado pelo físico Paul Ginsparg, em 1996. O físico estava insatisfeito com a política de aquisição das publicações científicas e os constantes impasses para as bibliotecas americanas manterem atualizadas as coleções.
Paul compartilhou um arquivo com artigos científicos de áreas como matemática, física e ciência da computação. Em 2012, o ArXiv já tinha mais de 745.000 artigos digitais e uma média de seis mil uploads de arquivos a cada mês.
Desde então, diversas atualizações nos modelos de repositórios digitais já aconteceram à medida que a TI avança, constantemente.
O repositório digital armazena arquivos de imagens, áudio, vídeos e textos que podem ser acessados por qualquer pessoa ao redor do mundo, de maneira gratuita, por se tratar de um acervo aberto.
Ao passo que o usuário pode consumir o conteúdo disponibilizado, também pode inserir um novo conteúdo, e isso torna o repositório digital uma ferramenta de incentivo ao conhecimento colaborativo de alta performance.
A qualidade do conteúdo compartilhado passa pelo crivo e curadoria de experts que fazem a gestão e o controle desse compartilhamento. São os chamados “moderadores” de cada área definida.
Os repositórios digitais seguem uma máxima “organizar o conteúdo a ser compartilhado”, já a estrutura padrão, ou um modelo único não existe. Atualmente, existem mais de 150 repositórios digitais no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT.
A maioria é caracterizada por repositório institucional, mantida por instituições que produzem o conhecimento científico e abastecem o sistema. Dentre os demais repositórios, bibliotecas digitais e arquivos de temas específicos caracterizam os tipos de repositórios existentes.
Desses repositórios digitais existentes, 74% utilizam o software Dspace, e, desde o PL 1120/2007, que tornou obrigatório o uso de repositórios digitais em universidades e institutos de pesquisas, novos softwares surgem para facilitar a criação de repositórios digitais:
Em 2014, o Tainacan foi criado. O software livre brasileiro está entre os modelos de organização de dados de acervos culturais (museus, bibliotecas, cinematecas, arquivos). A plataforma de código aberto foi criada para integração com sites em WordPress sendo também um plugin instalado no Painel Administrativo do site.
Desenvolvido pela equipe do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Tainacan permite a criação e gerenciamento de coleções digitais de maneira fácil e intuitiva.
Com o Tainacan, é possível criar coleções de itens como:
E, ainda, é possível organizá-los de acordo com as necessidades da instituição. Ele também permite a criação de metadados para cada item, permitindo a busca e filtragem dos itens de acordo com informações específicas.
Além disso, o Tainacan oferece recursos de acessibilidade e internacionalização, garantindo que as coleções possam ser acessadas por um público diverso e em diferentes idiomas. Ele também possibilita a importação e exportação de coleções em formatos como CSV e XML.
O Tainacan também possibilita a integração com outras ferramentas, como o WordPress e o Drupal, além de oferecer recursos de segurança e privacidade para garantir a proteção dos dados dos usuários.
Então, o software oferece recursos de metadados, acessibilidade, internacionalização, importação e exportação de coleções e integração com outras ferramentas além de garantir segurança e privacidade.
Por se tratar de um sistema de gerenciamento de coleções digitais open-source, o Tainacan oferece várias vantagens, incluindo:
Flexibilidade
O Tainacan permite a criação de coleções digitais personalizadas, adaptadas às necessidades específicas de cada projeto. Ele fornece uma ampla variedade de tipos de metadados e opções de exibição, permitindo a criação de coleções digitais que sejam atrativas e fáceis de navegar;
Facilidade de uso
Foi projetado para ser fácil de usar tanto para administradores quanto para usuários finais. Ele oferece uma interface intuitiva e opções de importação de dados em massa, facilitando a criação e gerenciamento de coleções digitais;
Integração
Ele também pode ser facilmente integrado a outras ferramentas, como repositórios digitais, plataformas de mídia social e sistemas de gerenciamento de conteúdo. Isso permite ampliar a alcance e acessibilidade das coleções digitais;
Personalização
O software é open-source, o que significa que ele pode ser personalizado e adaptado às necessidades específicas de cada projeto;
Comunidade
O Tainacan tem uma comunidade ativa de desenvolvedores e usuários que contribuem com o desenvolvimento do software e oferecem suporte para solução de problemas.
O Tainacan é considerado um sistema completo e robusto, mas como todo software, ele também tem alguns pontos negativos. Alguns deles incluem:
Personalização técnica que pode exigir um especialista
Embora o Tainacan seja projetado para ser fácil de usar, a configuração e personalização avançadas podem ser complexas e exigir conhecimentos técnicos.
Documentação limitada para projetos densos
Embora exista uma quantidade razoável de documentação disponível, ela pode não ser suficiente para usuários iniciantes ou para solução de problemas avançados.
Suporte limitado à comunidade de desenvolvedores e voluntários
Como é um software open-source, o suporte oficial pode ser limitado, e o usuário deve depender da comunidade para solução de problemas.
Ele pode ser obtido através dos canais:
Atualizações frequentes para garantir segurança dos dados
O Tainacan é um software em constante desenvolvimento, o que significa que as atualizações frequentes podem ser necessárias para manter a segurança e a compatibilidade com outras ferramentas.
Integração limitada
Embora o Tainacan possa ser integrado a outras ferramentas, a integração pode ser limitada ou exigir trabalho adicional.
Há vários sites brasileiros que usam o Tainacan para gerenciamento de suas coleções digitais, dentre eles destacamos:
Jornalista, especialista em Marketing de Conteúdo e produtora de conteúdo digital há mais de uma década.
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